14 de março – 24 de maio 2024
Em 1992, após uma carreira diversificada, António Aragão regressou à pintura para concluir a sua jornada artística com “Os Monstros”. Esta série é uma espécie de síntese da sua trajetória que reflete as características únicas da sua obra, marcada pelo experimentalismo estético e poético, pela criatividade rebelde e pela recusa em conformar-se com convenções estabelecidas, tanto na vida como na arte. Para além da sua faceta como artista, Aragão desempenhou igualmente papéis fundamentais como historiador, museólogo, etnógrafo, escritor, poeta e pensador, deixando um legado cultural e intelectual duradouro que continua a influenciar e inspirar artistas e investigadores.
A série “Os Monstros” foi inicialmente composta por 16 obras e apresentada na sua totalidade ao público em 1996. Esta exposição procura reunir o maior número possível dessas obras, agora dispersas por diversas coleções públicas e privadas. As obras empregam a técnica da colagem, refletindo aqui a natureza multifacetada da experiência humana e desafiando instituições, política e valores sociais, através da provocação e ironia ácida, do grotesco e do absurdo. Os títulos, como “Ao pensar no cash flow” e “Sem saber do marketing exemplar”, evidenciam uma abordagem crítica e irónica à sociedade contemporânea, típica da arte pós- moderna dos anos 90. Estas obras são uma expressão visual da fragmentação e complexidade da vida moderna, utilizando elementos do quotidiano e da cultura contemporânea para criar uma narrativa visual de múltiplos sentidos.
Os monstros representados emergem do caos entre fragmentos de jornais rasgados, ganhando vida numa representação expressiva e vibrante. Estas figuras disformes ecoam movimentos artísticos do passado recente, marcados pela fragmentação, pluralismo e relativismo. O estado do mundo atual, mergulhando em novas crises, guerras e mortandade, mostra a intemporalidade de “Os Monstros” de Aragão” como um grito para o implacável e o infindo.
Martinho Mendes